quinta-feira, 5 de maio de 2016

pernas de sereia

pernas de sereia

nenhuma música ressoa
- silêncio sobre silêncio
excesso insuportável
de ausência
o cristal entregue à criança
tempo de chuvas
perturbações
distorções de sentido
luz intensa
cegueira, vertigem
o corpo desviando-se
das sombras
fugas, recolhimentos
distância entre ouvido e grito

cristal
antes a tudo imune
entregue às mãos da criança

tecer novamente
um ritmo que se faça música
partir do deserto
e encontrar a sede exata
partir das mãos
e medir o espaço do abraço
na trilha escura divisar
o olhar vaporoso do amor

lâmina e suspensão
segurar o sonho
antes que dissolva
beijar os pulsos
antes que expirem
sorver o ar desimpedido
partir do que foi partido

o cristal escapa das mãos
estilhaços de luz dentro dos dias
a alma, toda azul invade o quarto
onde anjos suicidas
recapitulam o instante
imediamente antes
em que os lábios
ensaiariam o gesto exato de um beijo