sábado, 6 de dezembro de 2014

O homem que cai

Está a ponto de voar
Amarre as asas no corpo
Enrole inteiros os braços
Como se fossem asas presas
E mergulhe de cabeça
Bem longe dos pensamentos

Lâminas finíssimas sobre os pés
A dor sobe até o coração e dispara
O mínimo na palma da mão
Pronto para voar e - quando interrompido
Não somente esquecer o desespero
Nada haverá nada a esquecer
Encha de água os pulmões
Repire o ar antes que seja fogo
Aperte o cano da respiração
Voe aceleradamente até o chão

Isso tudo para não continuar
Para não ver o próximo canto
Se transformar em grito
E depois?
O que fazer com o invólucro maldito?
Lançá-lo aos bichos?

Até que tudo passe e a vida permaneça viva

Lamentamos muito
Estamos inconformados
Profundamente tristes

Um último pedido
Que a vida viva e seja vista
Não se deve esconder a vida
Nunca guardá-la dentro dos sótãos
Ao sol os gestos são mais livres

A ponto de voar
Agora já está indo
E o que ficar, seja leve e doce
Um instante depois do outro