sábado, 30 de março de 2013

chá

 Tirei a minha dúvida em relação ao gosto do chá. Era mesmo a ameixa desidratada que favorecia que aquele gosto específico surgisse, junto com as folhas e as gotas de limão. Gostaria de, a partir de pequenas coisas, tirar conclusões sobre coisas maiores, mas não é tão simples. Mary Jane me diz: "Basta tomar o chá". E eu acho que ela está certa. Mesmo que nenhuma sabedoria seja extraída disso, é importante somente tomar o chá, em vez de ficar tentado encontrar de onde vem exatamente esse gosto que faz com que o chá se torne absolutamente irresistível. Na verdade, nunca ficará com o mesmo gosto do chá que eu tomo junto com Mary Jane, preparado por ela, inclusive. Mas ficou próximo, quase. E foi a ameixa, isso eu descobri sem sabedoria. Nem mesmo sei o que significa sabedoria. Acho, por exemplo, que as crianças são grandes sábios - fazem somente o que querem, se as deixarem que façam. O que compromete que isso permaneça é que durante tanto tempo os adultos começam a determinar o que é certo ou errado até que em determinado dia todos estejam habilitados a não saber mais nada com naturalidade. Começamos a precisar de regras escritas, olhar no manual sobre o que seja certo e o que seja errado. É preciso isso. É preciso aquilo. Às vezes institucionalizam coisas que parecem tão óbvias, que até se torna estranho uma obrigação por fazer o que já parecia ser naturalmente certo. E começo a desconfiar de quem julga os outros que não agiram “certo”. Afinal, foi uma vontade ou uma obrigação? Então num primeiro momento não sei de fato se aquilo que eu quero está certo ou se aquilo que eu quero está errado. Até que decido não querer. Simplesmente não quero. Não encontro mais a vontade de considerar justo e certo aquilo que devo fazer. Acho, na verdade, extremamente insuportável. Tudo que esteja institucionalizado. O que deve ser feito se torna espantosamente uma imposição. E me espanta, realmente, encontrar pessoas que gostem de fazer o que fazem simplesmente por serem obrigadas a isso. Eu só quero tomar o chá. E que me deixem em paz.