segunda-feira, 30 de setembro de 2013

seu jeito de pronunciar as palavras...

estamos em um outro tempo agora,
como se o vento, a chuva de ontem, as flores que surgiram
(algumas bem estranhas, exigindo cuidados e aflições)
dissessem: olhem mais devagar

nem mais acreditar em poemas
as palavras tão incômodas como o pó que se acumula insistentemente
entre os livros da estante,
não lidos, não consultados, nenhum poema desperto de seu marasmo

o latido de um cão, na rua, pode muito mais do que um verso
a sua quase lágrima, se eu dissesse ou quando eu dissesse:
"Você está tão errada que eu não vou nem discutir..."
tem a força quieta do silêncio que nenhuma metáfora
[jamais romperia

intrigadíssima, abismada e inútil como um esquilo
que rompe o primeiro gelo do inverno
com o casco de uma unha, sem resposta

e ainda assim,
aguardante

Para que depois, bem devagar, possa colher as pétalas que caem
no outono de teu sopro, ao anoitecer